sábado, 18 de agosto de 2012

O que fazer?

A mim, peço que me deixes num terreno baldio
e espere que os bichos venham e devorem minha face.
Depois, olhe bem em meus olhos e pergunte:

"Quem és tu, poeta descartável!?
Atado ao nada de ti mesmo
e fadado a um ato assim tão podre?
Agora, só contaminas esse lote com tua química
e daí, bem sabes, só brotarão tumores."

Depois, me amarre em suas costas
e carregue até tua casa,
só por delicadeza,
me apresente a todos teus amigos:
"Olhe, este era meu amigo,
era como um irmão para mim
ou o pai que nunca conheci!" 

A outro diga:
"Não te envergonhes,
pode olhar sua boca aberta...
Por que não encarar os tapurus em seus lábios?
Por favor, não se reprima!
Vomite se achar necessário!"

Então, quando me considerares inútil
até para os teus chegados,
recite um poema meu qualquer,
cante uma canção que eu gostava
sobre os porcos nas nossas asas,
ou o brilho dos diamantes,
uma dessas que me fazia lembrar que estava vivo.

E se por acaso eu me mexer
ou aparentar dançar com meu cadáver torto,
não se preocupe, saberei: "ainda estou morto"
e não voltarei para dizer-te nada
ou assustar-te nas noites mais frias,
mas é que a música ficou gravada em meus pés
e a dança era uma parte mais fluida em mim do que a palavra.

Porém, se nada disto acontecer
não tenhas medo,
acalme teus companheiros
meu corpo seguirá vazio,
tão desalmado quanto sempre.
Não gastes mais teu tempo a recordar o inexistente,
passe para o próximo momento:
a vida é isto.

3 comentários:

Daniel Andrade disse...

deu a porra, isso aqui está para lá de Augusto do Anjos do século XXI hahaha
muito bom meu pirranha

Lucielle Wiermann disse...

Forte!
Reflexivo!
Para ser lido outra, outra, outra vez...

Lucas, fiquei feliz com sua iniciativa em me participar dos poetas de Marte, quase me tendi a voltar as costas para a Terra depois disso...rs
Espero q me visite mais vezes, porque da periferia eu não saio mais.

Abraço

Gabriel Arcanjo disse...

(Eu também)

Breve estarei morto,
Não importa os dias,
Os meses,os anos...
A morte é sempre breve
E nunca tarda!

Querem a palavra "novo",
O "ovo de Colombo" repensado?
Hoje mesmo eu acordei tarde,
Sem perspectivas.
Apenas um hálito amargo na boca
E lembranças de sonhos frescos...
É um louco! diriam...
Ou um vagabundo!
Mas o que sabem "eles" da loucura
Ou da vadiagem sadia que vivo?
Me tragam conhaque! Por favor...
Ou me tragam vinho!
Preciso me embriagar!
É preciso transformar a linguagem,
Ela é um pedaço de pão duro,
Difícil de mastigar.
As minhas malas há muito estão prontas,
E o meu terno já veio da lavanderia,
Apenas o silêncio me incomoda
E é por isso que eu grito!
Que me perdoem os vizinhos,
Hoje não é dia de se matar.
Chega destas palavras inconsistentes!
Chega de não dizer nada,
De permanecer calado!
Isto são apenas rascunhos, diriam...
Melhor rascunhos do que nada,
Ou do que a ordenação lógica das palavras.
Viva a incoerência do pensamento!
A fatalidade da vida!
Do que me vale o caos organizado?
Como pão com banana,
Tomo café com bolacha
E fumo um baseado,
E não tenho discursos,
Apenas um monte de palavreados
Amontoados um em cima dos outros.
Não tenho treinamento de guerrilheiro,
Nem pretensão de ser revolucionário
latino americano.
O meu reino é o das malocas,
É o das favelas cibernéticas,
E se segura malandro!
Só sobrarão as baratas e traças roendo livros!
Preciso urgentemente escrever a minha autobiografia,
Preciso urgentemente plantar uma árvore
Ou compor um samba!
Mas por enquanto preparo o meu arroz integral
Que eu tô com fome
E com saudades da Bahia,
Que esta solidão... Esta solidão me dói a barriga.
Do que me vale ser poeta?
Mais vale uma cerveja gelada do rimas e verso.
E aí Baby bate um MSN pra mim que eu tô ligado na sua, hem!
Jogo de palavras, diriam...
Jogo de palavras...