sábado, 5 de maio de 2012

Cidade panorâmica

                                                              à Miguel

Há aviões no teto da sala
e trens a traçar suas próprias ferrovias
nos rejuntes da cerâmica.
Há um doce caos que faz de todos,
 super-heróis, robôs, espaçonaves, tambores,
 animais de estimação, telefones celulares
e ímãs de geladeiras em formato de pássaros
iguais cidadãos da mesma metrópole:
uma imensa conurbação de sentidos e sentimentos,
num ciclo quase hindu de construção e destruição
- e renascimento.

Nascem novas possibilidades,
além do que me é permitido conceber
com minha percepção de homem.

Não adianta chorar em cima do leite derramado
que transformou todas as cores num imenso rio branco
desmanchando o sonho como se fossem biscoitos
dissolvidos num copo de solidão e desespero.

E entre as cabeças de monstros e ursos de papel machê
que povoam os nossos maiores medos,
ouve-se de muito longe, lá do fundo da memória,
um clarim anunciando a alvorada,
que traz novamente a tona um único pedido,
a tese final dos desejos mais íntimos:
- Pai, eu quero o carnaval!



Um comentário:

Unknown disse...

O final, sobretudo, é ótimo! Todo meundo que se interessa pelo bom da vida, quer carnaval!